17 de dezembro de 2015

Como aproveitar a América de mochila em 5 dias

A oportunidade 

Enfim surgiu uma oportunidade de novamente cruzar as fronteiras do meu pago. No mês de outubro de 2015, o Fagner e eu (João) nos lançamos na estrada para um congresso em Foz do Iguaçu.
Nem sempre o melhor caminho entre dois pontos é o menor. Neste caso fizemos uma baita volta, atravessamos o nordeste argentino e cruzamos o Paraguai, conhecemos cidades e pessoas incríveis.

O trajeto
 Eu hoje me vou para a fronteira (São Borja/Santo Tomé)

Saindo de Porto Alegre pegamos um ônibus da Planalto Transportes com destino São Borja. Escolhemos esta cidade porque era o ponto de fronteira com a passagem mais barata, um pouco menos de R$100,00. A viagem noturna nos pouparia pernoite em hostels. Saímos de Porto com o tempo quente e abafado, empolgado, fiquei falando, falando e falando com o Fagner que já mostrava sinais de que queria dormir, mas eu imaginava o que me esperava, como seria a viagem, quanta coisa pela frente. Parei de falar, sorvi meu mate que levei na bagagem e esperei o sono chegar, lentamente, curtindo cada quilometro e assim peguei no sono.
Acordei no meio do trajeto em Santa Maria, o ônibus chacoalhando quando entrava na rodoviária. Alto da madrugada, desci para dar uma esticada nas pernas e esvaziar o mate da noite anterior, meio tonto pelo sono, pouco tempo depois já seguia para oeste. Cedo, bem cedo da manhã chegamos em São Borja e lá a temperatura estava uns 20 graus a menos que a de Porto Alegre, pensei: "- Será que não deveria ter colocado mais roupa para frio na mochila?". O objetivo chegando em São Borja era cruzar a fronteira para a Argentina, Santo Tomé. Parece que havia um ônibus que cruzava a fronteira, mas pergunta para um, pergunta para outro e nada de informação confiável, ninguém tinha certeza, e se os locais não sabem, a saída é ir a pé. Saímos da rodoviária, carregando as mochilas, a cidade acordando, cruzamos o centro e paramos em uma padaria para tomar um café da manhã local.
Padaria em São Borja

Na padaria nada de especial, comemos massinha e tomamos Frukito porque eles não serviam café com leite. Nesta padaria nos indicaram o caminho para chegar na fronteira a pé, sempre ressaltando: "- Mas é looonge", OK. Chegamos em uma rodovia onde nos disseram que poderíamos pegar carona até o posto fronteiriço. Eu não tenho sorte com carona então nem contei muito com isso, mas o céu estava com cor de chumbo, o tempo estava para chuva.

Carona? ahuhau
Caminhando e pedindo carona, passavam carros, motos, ônibus e caminhões. Ninguém parava e nós seguíamos o nosso caminho, la pelas tantas já cansados vimos a tal ponte de travessia, depois dela as antenas do centro de fronteira, pensamos: "- Beleza, que carona que nada, vamos chegar la caminhando" mas o cara lá de cima tinha uma surpresa guardada para nós. Não e pode cruzar a ponte a pé. Como assim? isso mesmo, só pode chegar na Argentina em algum veículo automotor.

 
Não passa nada!
Coisa besta, mas isso nos obrigou a  ficar na dependência de alguém querer nos dar carona para chegar na Argentina. Combinamos o seguinte: "- Cara vamos ficar aqui pedindo carona por 30 minutos, se ninguém nos ajudar vamos pular aquela cerca e chegar a pé, de locão la na Guardameria deles". Foi pensar isso e uma alma caridosa parou um caminhão da década de 70, perfeito e nos deu uma carona. Foi uma mão na roda, uns 15 minutos de caminhão que valeram algumas histórias e na saída o Fagner ainda me chuta a panela do motora quase derrubando no lodo argentino.
O Sr. Motora

O Sr. Motora era brasileiro e estava indo até o posto de fronteira para carregar peças de Toyota rumo a São Paulo. Este era o dia-a-dia dele, estranha esta vida de caminhoneiro na estrada, acaba sendo uma rotina parecida com a de escritório eu acho.

Mas assim chegamos na imigração, fizemos os tramites e mais caminhada até a cidade de Santo Tomé, felicidade pela travessia da primeira fronteira, vídeos e fotinhos para comemorar a carona, abraços e chuva, arram, começou a chover, muita estrada para caminhar pela frente, puxei minha capa de chuva, emprestei o guarda-chuva para o Fagner, mas o cansaço bateu forte. Sentindo fortes dores nos membros inferiores e nas costas, chegamos na cidade de Santo Tomé, buscando a rodoviária (Terminal de Buses) da cidade para comprarmos uma passagem para Posadas, a cidade que pensamos em dormir. Sábado, tudo fechado, nenhuma casa de cambio aberta, conseguimos trocar nossos contados pilas em um posto de combustível no centro da cidade foi quando a maravilhosa surpresa da taxa de câmbio nos foi informada e agora sobrava a grana. Comecei comprando frescurinha no AM/PM do posto de combustível, depois direto para uma Padaria comprar media-luna e acabei com a sobra do dinheiro no melhor restaurante local, uma mistura de galeteria com churrascaria e pizzaria, comemos muito, até o cansaço foi em bora. Próximo passo, a passagem para Posadas,

La na rodoviária, chovia muito, nós longe de tudo, com a barriga cheia, passagem comprada, tomando um mate (já com erva argentina) cachorros fedidos ao redor, o que poderíamos querer mais? era a vida que pedi a deus, e assim foi até chegar nosso ônibus para nos levar a desconhecida posadas.




Rumo a segunda Fronteira (Posadas)

Embarcamos em um ônibus grande, dois andares, a chuva continuava forte, seguimos agora para noroeste, para a fronteira com o Paraguai e em Posadas chegamos, ao anoitecer. Nunca é bom chegar em uma cidade mais ou menos grande durante a noite, tudo é sempre maior do que realmente é, mas assim que desembarquei vi que aquela rodoviária não era tão estranha para mim, mas estava na dúvida, até ir no banheiro e ver o sabonete. Isso mesmo, o sabonete do banheiro daquela rodoviária é algo que fica na memória, ele fica cravado em um ferro e tu tem que ficar passando a mão naquilo, então tive certeza, alguns anos antes passei por ali em uma viagem de retorno do norte da Argentina mas naquela oportunidade não cheguei a conhecer a cidade.

Saímos da rodoviária, pegamos um ônibus local rumo a praça central para achar algum hostel mais em conta. Praticamente todos os hostels lotados, nenhuma vaga, entrando a noite e a chuva voltou com força, nós já estávamos molhados, depois de uns doze "Não tem vagas" achamos um quarto, perto da costa do rio Paraná, esta habitação deveria ter uns 4 metros quadrados, tinha um beliche que ficava encostado na janela não permitindo que ela fosse aberta, também uma cadeira de madeira e um armário. Perfeito, era o que precisávamos, tomamos um banho e saímos para conhecer a cidade mais tranquilamente.
Vem para o Cassino
Carros legais




















Depois de um lanche no centro e uma boa noite de sono, saímos cedo da manhã para aproveitar o dia e conhecer um pouco mais da cidade antes de entrar no Paraguai.

Praça de Posadas
Praça de posadas 2
 
Gostamos muito da cidade, boa comida, boa bebida, organizada, calma e com uma beira-mar linda demais, costeando o Rio Paraná, onde do outro lado é possível ver Encarnación, cidade paraguaia e nosso próximo destino. 
Para chegar em Encarnación, pegamos nossas mochilas em mais uma tentativa de travessia de fronteira a pé, mas assim como foi em São Borja, não é possível a travessia da fronteira caminhando, porém ao contrário de São Borja, eles disponibilizam um ônibus que faz a travessia e um trem. Acho que também existia a possibilidade de travessia por barco, mas parecia estar fechado.
Escolhemos o trem por ser mais diferente, fizemos os tramites alfandegários e esperamos o tal trem.
Dentro do trem fronteiriço
 Encarnación, entrando no Paraguai

Chegando no Paraguai
 Trem limpo, organizado, vazio, parecia bem novo, acho que em 10 minutos já havíamos cruzado o rio Paraná, chegando em Encarnación. Das outras vezes que eu tinha entrado no Paraguai, minha visão era de desorganização nas ruas e simpatia da população. Tratei de avisar o Fagner que do outro lado da fronteira as coisas seriam diferentes da Argentina, que um outro mundo estava se abrindo e teríamos que nos adaptar a ele.

Quando o trem atravessou a ponte e tocou em solo paraguaio as mudanças ficavam evidentes, Encarnación parecia tão bonita nas fotos que vimos na internet, apesar de nosso livro que usamos como guia de viagem não reservar mais que 10 linhas para esta cidade, eu tinha uma sensação boa, mas a estação de fronteira ficava em uma parte zuada, bem complexa, que passava uma má impressão. Trocamos uns pilas em um câmbio que parecia bilheteria antiga de estádio de futebol e percebemos que iriamos perder na troca das moedas. Falamos com algumas pessoas por ali e perguntamos como chegar na famosa praça central, nos indicaram um ônibus local e lá fomos nós.

Ônibus bem sujo
Ainda nos ambientando, a cidade parecia bem calma, era Domingo e a maioria do comercio estava fechado, procuramos um restaurante, mas não poderia ser caro, agora o câmbio era contra nós, achamos uma pizzaria, promoção do dia e lá fomos nós. Conversamos com o cara da Pizzaria, usamos a internet deles e ficamos algumas horas ali, depois de pegar várias dicas e descobrir que a cidade contava com um dos maiores sambódromo da América seguimos para a praia, atrás das fotos bonitas que tínhamos visto na internet. 

Maior sambódromo da terra

Praia deles

Foto igual a que eu tinha visto na net



Foi chegando na parte litorânea da cidade que o clima mudou, ruas largas, obras grandes e policiamento. Era sem dúvida o pedaço turístico da cidade que no verão deve receber muita gente. Um lindo e agradável lugar onde os paraguaios passam o tempo empinando pipas gigantes ou dando voltas de carro, sempre no mesmo lugar, percebemos que o mesmo carro chegou a dar mais de 10 voltas na mesma rua, dando a famosa bandinha. Ficamos por ali, descansando um pouco, admirando a paisagem e esperando a hora passar pois a noite, lá pela meia noite nosso onibus iria sair rumo à Assunción. Quando a noiteceu esfriou ainda mais e buscamos um café, ficamos nele umas horas dando um tempo, depois mais uma volta pela cidade que era bem grande e por fim de volta a pizzaria. Mais umas duas horas para comer uma pizza e perto da meia noite, caminhada para a rodoviária.

Vamos para a capital, Assunción!

Nossa ideia era pegar um ônibus meia noite para dormir durante a noite e chegar em Assunción pela manhã, mas dormir a noite nestes ônibus é só para os fortes. O encosto do meu banco não parava e tinha muita gente em pé, fora que o cara andava muito rápido. Noite dos infernos, quase nada de sono e pela manhã chegamos na capital. Hora do rush e nossa nova super ideia era chegar no centro da cidade, bem nós e toda a população queria chegar no centro. Os ônibus cuspiam gente pelas portas, o trânsito parado, aquele cheiro de diesel de carro importado de todos os cantos do mundo. Sim, decididamente nós estávamos em Assunción. Não ache que eu estava abalado, triste ou mau humorado, eu estava realizado e me lembrava da primeira e segunda vez que estive ali e tudo estava igual.


Lei de transito
 Não dava nem para cogitar entrar nos ônibus municipais lotados com nossas mochilas gigantes. Saímos caminhando rumo a praça central, mas era longe, muito longe. Mais ou menos no meio do caminho começaram a passar uns ônibus mais vazios, mais executivos com ar condicionado e uma tarifa mais cara. Paramos um e chegamos no centro de Assunción.
O objetivo agora era ir atrás de uma pousada, tomar um café, descansar um pouco e aproveitar a cidade. E assim foi, encontramos a pousada Black Cat com um preço meio salgado, quarto compartilhado, vários beliches, mas só nós de donos da Pousada. Tinha até piscina e mezanino, pousada bem boa.



Chegando na pousada

Foi chegar tomar um banho e capotar, desmaiei na cama por algumas horas, depois estava novinho em folha, pronto para dar uma volta pelo centro da cidade.
Na região do centro, eu gostei muito da praça Montevidéo, bem tranquila para ficar sentado lendo um livro, curtindo a cidade e alugando um terere para tomar. Outro lugar legal é a beira do rio, onde eles tem uma avenida, a casa do presidente, fica reunida uma igreja, uma faculdade e um antigo porto além de umas praças que estavam tomadas por paraguaios que foram atingidos pelas chuvas e estavam sem lugar para morar, aproveitando a localização da praça para fazer uma especie de manifestação contra o governo. 

Fagner na casa do presidente


Manifestação também vimos dos motoristas de ônibus acampados em frente ao ministério do trabalho.
Antigo porto










Saindo desta zona central que junta os principais organismos políticos do Paraguai, resolvemos conhecer as coisas mais populares e acredito que nada seja mais popular do que comer no comedor popular e ir no mercado da cidade.
Uma particularidade é que o mercado de Assunción conhecido como mercado central é na verdade um conjunto de ruas que formam um centro popular de compras muito parecido com nossos camelos de rua, mas são várias ruas e se vende de tudo. Encontramos eletrônicos, camisas de times de futebol (todas oficiais Claro), linguiça frita para comer, açougue, enfim, tudo que podemos e não podemos imaginar.

1/2076 avos do mercado central de Assunción
Conhecemos os estádios do Nacional e do Cerro, que por acaso estava em construção e comemos no tal Comedor Popular.
Caldo de Vori Vori

Comedor popular bem arrumado
Neste lugar pedimos a comida típica paraguaia que é Sopa ou Caldo, eles comem muita sopa e a nossa pedida foi o Caldo de Vori Vori, é uma sopa de galinha com muita coisa dentro que não sei o que é e nem quis saber, eles deram batata doce para acompanhar e uma jarra de suco artificial. Perfeito.




O valor ficou em torno de R$ 7,00 (dinheiro já convertido) e sai torto de tanto comer.
Duas noites na capital e consegui conhecer somente a região central, mas a cidade é bem grande e eu precisaria de mais tempo, mas o meu destino era Foz do Iguaçu e para isso precisava pegar mais um ônibus noturno rumo a Cidade do Leste (Ciudad Del Este). Antes disso porém, eu tinha uma tarde e noite pela frente. Conseguimos curtir a praça Montevideo, tomar um terere, conversar com o pessoal sobre futebol, comprar comida no mercado, dar um tempo e depois disso ir em bora.
Dando um tempo na pousada
Voltando para o Brasil

Antes de embarcar ainda deu tempo de curtir uma partida de futebol, pela TV, entre Paraguay e Argentina, comer um hamburger e nova viagem noturna sem possibilidade de dormir agora para a fronteira com o Brasil, o motora dirigia muito rápido, mas muito rápido mesmo. Era entregar para o bom velhinho e torcer para chegar inteiro. Chegamos bem, tanto que consegui escrever este relato. Minha tática para não me apavorar muito é pensar que estes caras fazem estas viagens todos os dias, tudo bem que ocorre as vezes um acidente, mas não é sempre, então!

Chegando em Cidade do Leste, pegamos um ônibus na própria rodoviária para Foz do Iguaçu. Cansados mas muito felizes ainda conseguimos aproveitar as cataratas argentinas, e para isso, mais tramite aduaneiro.



Para finalizar, algumas palavras sobre Foz do Iguaçu. Cidade fantástica, cosmopolita, com ônibus demorados, comida deliciosa e não tão cara. Aquele lanche, Shawarma é muito bom.

Sobre as cataratas, algo fora do comum, lindo, me senti dentro da ilha do Jurassic Park. Muita natureza, muito turismo, muitos turistas.
O legal da cidade é que ela tem muitas possibilidades, além das cataratas tanto do lado brasileiro como argentino, ainda tem a usina de Itaipu, a faculdade das Américas, o polo astronômico, além das compras em Cidade do Leste, ou seja é uma loucura. 

Em Foz, ficamos em uma pousada chamada Hostel Poesia que era de tirar o chapéu, linda, limpa, grande e com um custo muito bom em um lugar tranquilo da cidade, deu vontade de ficar mais.
Hostel Poesia

 E assim foi finalizada mais uma Trip, tempo curto mas muitas histórias para contar. O segredo é aproveitar cada segundo e curtir!!

Mais uma do soy-nomada !!!












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